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No calor do cansaço, uma febre que volta...

Eu estou tão cansada de que me digam o que fazer. O que temer. A quem amar. Eu estou tão cansada de não poder sofrer, ou gritar. De não me deixarem mentir, pra mim ou pra outros, sobre gostar de mim ou de outros. Estou cansada de meias verdades, de verdades inteiras, de receitas de bolo. Estou cansada de amor viciado, de febre nos olhos, de sonhos vencidos. Estou cansada, perdida, exausta, retorcida. Estou cansada de pensar em adjetivos. Estou cansada de parecer bem estruturada, antenada, discreta, correta ou corrosiva. Estou cansada de ser eu mesma e de ser outras. De ser simpática. De ser pedante. Não quero mais controlar nada nem me esforçar para que não me controlem. Estou de saco cheio de pesar as palavras e a elegância. Estou profundamente cansada de ser elegante, me desculpem. O vômito também é real e prazeroso. Vou falar de coisas fétidas ou supérfluas, só porque me deu na telha. Nem é pra chocar, é porque estou com saudade. Estou com saudade de um mundo meu que nunca existiu, e que era doce e grave e feérico, com todas as luzes acesas e nenhuma vontade de chorar. Estou cansada de procurar pessoas pra amar, pra me distrair, pra contrariar ou desobedecer. Estou cansada de procurar trabalho pra esquecer e pra sobreviver. E de procurar argumentos pra convencer. Estou exausta de arder, de ficar tentando parar de sofrer ou de chorar. Estou puta de ficar querendo entender e perdoar. Estou farta de procurar sarna pra me coçar. De procurar motivos pra me torturar, de procurar amigos pra desabafar. Estou cansada de procurar e de achar. Estou cansada de rir, de mim mesma e de outros. Eu não tenho respostas agora. Sinto muito. Nem perguntas eu tenho. Estou quase vazia. E cansada de estar tão cansada. E cansada de planos alternativos, como cantar no banheiro ou escrever um poema. Quero sentar no chão e descuidar de mim mesma. Quero ter febre de novo. E calafrios.

Cansei de migalhas.

Quero o tremor inteiro.

Comentários

Anônimo disse…
Lembra de mim? Meus pesadelos cessaram, a leveza está de volta... Continuo te lendo SEMPRE, gostando do que leio, me identificando.Seus últimos textos vinham sendo tranquilos (mas sempre profundos), vc parecia estar muito bem. Até parei de comentar, pois achei que qualquer palavra seria muito pesada para transmitir um pouco da minha leveza a vc. (É isso que tenho feito, doado mentalmente minha alegria, que é grande)
O que houve hoje?
Quando li, senti gelar meu estômago. Sei exatamente que sensação é essa, putz! Lembrar que já senti isso me fez reviver, por alguns segundos, esse sentimento.
Fique bem, Rebecca! Vc tem um manancial de beleza e cores internas para combater esse cansaço desbotado e demodê...
Senta no chão, chora e levanta linda!
Unknown disse…
Pesadelo,

Seu comentário emocionou por aqui...
Ando precisando mesmo dessa força. Obrigada, obrigada, obrigada!!!
Anônimo disse…
Olá, nem me lembro como cheguei até aqui, mas posso te dizer que há algumas semanas eu me sentiria descrita nas tuas palavras. Soco no estômago total, percepção de que existem muitas pessoas por aí que passam pelo que a gente passa. A novidade: isso também passa.
Dá uma passada no meu blog tb :)
Anônimo disse…
Tá melhor? Espero um próximo post cheio de beleza, delicadeza e uma profundidade tranquila...
Anônimo disse…
Rebecca, a liberdade é um lugar que apenas a palavra permite vislumbrá-lo.

bjos,
Clau
Unknown disse…
Carol,

Tá passando mesmo... rsrsrs! Obrigada pela força! Assim que tiver um tempinho eu passo lá no seu blog, sim.

Clau, suas palavras sempre fazendo bem por aqui... eu ando me sentindo tão "presa"... Bjos!
Erika disse…
Eu adoro como vc escreve!

Alguns dos teus textos parecem leituras de minh'alma!

Beijos querida!
Unknown disse…
Obrigada, Erika!

Fico muito feliz!
Sil disse…
eu tô relendo tudo por aqui e entendendo porque é tão especial.
tô cheia de água nos olhos e com uma vontade de adormecer nessas palavras, que soam como a minha própria voz.
lindo. lindo. lindo.
Unknown disse…
Obrigada, Sil!
Fico sempre contente com suas visitas!
Vc não escreve mais no "exausta"?

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