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Mostrando postagens de setembro, 2009

Na piscina

Ela sempre vivera dentro dágua. Por isso acabou reconhecendo que seus líquidos sobressaltos, além de mais tortuosos, eram sedutoramente infiéis. E quase mortais. ... Foi assim, primeiro a mãe a matriculou numa escola de natação. Depois, ela aprendeu a viver daquilo: a respirar dentro da piscina como se fosse peixe. A pular entre as raias com estrondo e fúria. A domesticar o ar do fôlego e a vibrar braçadas ritmadas, plásticas, seguras. E rápidas. Muito rápidas. Ela ficou então. Quase uma atleta. Rápida e profunda. Mergulhadora dos espaços sempre azuis das águas. Piscina e mar. E rio, de vez em quando. Mas rio é mais perigoso, dizia a mãe, que quase se afogara quando era criança. E só foi salva, dizia ela, porque estava de fita vermelha no cabelo. E na correnteza em que a mãe ia, rio abaixo. Viram a fita boiando. Ela ficava admirada da história. Afinal, só existia por causa da fita. Bom, não só, mas a fita tinha sido importante. Ela é a mãe tinham sido escolhidas pra viver. Pelos acasos

Falso esquadro

Foto de Leslie Thompson Toda sorte tem seus ângulos. Alguns são um pouco macabros, outros, mais desertos. Uns podem ser esquerdos, talvez direitos, mas nem todos serão alheios a essa coisa mais grave, mais surda e mais difícil que é a falta de perspectiva.

Das ofensas nada gratuitas...

Uma das muitas formas de se criticar uma mulher é afastá-la, com maior ou menor sutileza, de tudo o que é considerado como “parte” do universo feminino – delicadeza, beleza, suavidade, elegância, candura, flexibilidade. Notem que usei apenas adjetivos “positivos”, mas ninguém desconhece o que eles representam: se é delicado, não consegue brigar; se é suave e cândido, é fácil de manipular; se é flexível, pode ser perigoso; se é belo, pode desviar a atenção de coisas mais “importantes” ou úteis, geralmente ligadas à racionalidade (posto que a beleza seria da ordem da emoção, da sensibilidade, geralmente relegadas ao plano do superficial, ou do supérfluo). São positivos, mas são negativos também. Para ofender uma mulher, costuma-se tirar dela sua “feminilidade”, chamá-la de “menos mulher”, ou de “mulher pior”, roubar dela tudo que a ela deveria se ajustar como “essência feminina”, dizer a ela, enfim, que ela falhou como fêmea. Em outras palavras, chamá-la de macho. O interessante jogo sim