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Mostrando postagens de abril, 2008

A menina e o cego que não mascava chicletes

Pessoas passavam por mim com suas bundas bolsas bocas encomendas pastéis embrulhos artífícios nuances. A cidade passava por mim com suas bancas bolhas bancos bicicletas árvores borboletas linhas de tráfego sinais de trânsito placas de pare e pense e conversas pela metade. Tudo era igualmente diferente na mesma rua (quase) mesma hora mesmo trânsito mesmos ônibus de idênticas cores e números e trajetórias. Pombos passavam por mim e árvores e pedaços de sombrinhas e malas e até carrinhos de bebês e canteiros. Tudo ia e voltava e vingava e sofria e partia e repetia e rebolava e suspirava e voava e se voltava para si mesmo como se nada fizesse sentido. Ou era eu que estava triste pra caralho? E o cego com sua bengala também ia passando passando passando, se não tivesse, de leve, trombado, e hesitado um pouco, na caixa de correios que amarelava a calçada. E o cego, com sua bengala, também ia sendo rapidamente esquecido, se não tivesse, de leve, levantado seus olhos para o céu. E os o

Coisas lindas...

Adoro coisas lindas. Adoro tanto que vivo cercada de. De coisas lindas. De objetos, às vezes. De pessoas. De livros delicados. E músicas de arrepiar. E filmes doídos de morrer. Pedaços de paisagem que eu guardo coleciono monto, fazendo um novo país. Rabiscos também como poesia. Versos cheio de paixão toda prosa. Um céu de outono. Uma prece. Um violão tocando Vinícius ou Ataulfo. Cartola. Um trocado que vira um café. Um beijo, um sorriso, um princípio de festa. Amigos. Vivo cercada de. E como eles são lindos, os meus amigos. Pele, vozes, bocas, roupas, olhos, permanências. Gente fazendo brisa fresca, fazendo evoluções na beira do mar. Gente fazendo do meu mundo um campo infestado de maravilhas. E de coisas lindas. Ah! Como as coisas lindas nos salvam da selvageria do mundo! Não pra sempre, mas às vezes. Na sua brevidade esvoaçante e pueril. Tal qual as borboletas. Coisa mais linda não há. Gosto de objetos inúteis. De objetos antigos. De formas ovais e opulentas. De fios dobrados. De con

Reflexões de ponta cabeça conferem a uma lista com onze itens um valor de inutilidade soberba.

Filmes antigos fazem muito bem para a saúde. Esvoaçante é um ótimo adjetivo. A lua só me diz coisas quando estou escura. O silêncio é povoado de esperas. Poemas me deixam alucinada e virgem. Praias são nuas de princípios. O azul é uma cor que voa. Listas são objetos cantantes. A febre é um delírio do corpo. Bem aventurados são aqueles que nunca, mas nunca mesmo, se sentiram inúteis. Um sorvete mais um sorvete nem sempre é igual a um sundae .

Outros números e alguma biografia.

Quando eu tinha 12 anos, eu gostava de brincar de "futuro", e ficava me perguntando como seria quando eu tivesse 34... e 56... e 78... e 910 anos... luuuuuuzzzzzzzzzz! Sim, a megalomania sempre foi meu forte. As coisas mudaram muito desde então, mas a sombra de alguém que fui ainda anda muito por aqui - às vezes, me deixando mais leve; às vezes, me desobrigando de mentir. Quando eu tinha 12 anos, eu ainda não tinha lido nenhum livro "grande" da Clarice Lispector. Só alguns contos. Meu pai achava melhor eu esperar um pouco, porque ela era muito "hermética" e eu não ia entender nada. Mal sabia eu que, aos 34 anos, iria defender uma tese toda minha, mobilizada por esse dito cujo hermetismo, e pela exaltada alegria difícil que aqueles contos já me apresentavam. Quando eu tinha 12 anos, eu ainda não tinha perdido minha mãe, e ainda achava que ela era eterna. Com 12 anos, eu planejava ser médica, e escrever muitos livros também. Como Pedro Nava. Como Guimarães R

Números nem tão imaginários...

Eu tenho 141 cm. Conquistados com esforço, sim senhor. Para alguns, não é exatamente fácil crescer. Já fiz 2 cirurgias, 4.327 miojos, 3 lasanhas, 567 pizzas, 2 monografias, 1 dissertação, 1 tese, 84 sessões de psicoterapia e muita pirraça. Tenho 731 livros, 1 prótese cardíaca, 3 projetos novos, 7 primos e 21 plantinhas de estimação. Já morei em 6 casas diferentes fora de bh e em 9 casas dentro. Já matei 425 baratas, 1.329 formigas (quase sempre sem querer) e 1 aranha (afogada). Perdi 2 boas chances de ter começado a ser eu mesma bem mais cedo. Perdi as estribeiras umas 3 vezes. A compostura, 211 . Fui "diretora" de 3 peças de teatro, entre os 10 e os 15 anos. Atuei como "noiva" em 4 festas juninas e como "menina que morre na hora da bomba" em 1 peça de teatro do colégio. Já tive 14.322 idéias. A maioria não teve utilidade alguma. Perdi a hora 13 vezes. E sem desculpa. Ganhei 135.368 beijos, 6 fios de cabelos brancos e 4 quilos &qu