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Mostrando postagens de outubro, 2008

No calor do cansaço, uma febre que volta...

Eu estou tão cansada de que me digam o que fazer. O que temer. A quem amar. Eu estou tão cansada de não poder sofrer, ou gritar. De não me deixarem mentir, pra mim ou pra outros, sobre gostar de mim ou de outros. Estou cansada de meias verdades, de verdades inteiras, de receitas de bolo. Estou cansada de amor viciado, de febre nos olhos, de sonhos vencidos. Estou cansada, perdida, exausta, retorcida. Estou cansada de pensar em adjetivos. Estou cansada de parecer bem estruturada, antenada, discreta, correta ou corrosiva. Estou cansada de ser eu mesma e de ser outras. De ser simpática. De ser pedante. Não quero mais controlar nada nem me esforçar para que não me controlem. Estou de saco cheio de pesar as palavras e a elegância. Estou profundamente cansada de ser elegante, me desculpem. O vômito também é real e prazeroso. Vou falar de coisas fétidas ou supérfluas, só porque me deu na telha. Nem é pra chocar, é porque estou com saudade. Estou com saudade de um mundo meu que nunca existiu,

A ave

eu sei eu sempre soube da fragilidade frugal e oscilante do vôo de um seu abraço . eu sei eu sempre soube da sua textura vibrátil longelineamente fugaz e estonteante . mas eu nunca soube até então do seu corpo a densidade o frêmito quase pássaro entre minhas asas . tímida pluma quebradiço silêncio gravetos . eu sei eu sempre soube seus olhos me diziam seu sorriso seu perfil sua grave elegância de ave prestes a partir me diziam . e se no espaço pássaro do abraço eu te deixo ir é porque sei como voas lindamente e suave pousa de novo e de novo em mim sua vertigem de delicada ossatura . eu sei eu sempre soube quando tudo é muito agora já é muito longe . e flutua

Todo dia

Todo dia, o amor faz em mim tudo sempre igual. Me acorda e me move com ele, todo espanto e sono invencível. Me exaure e me alimenta, me despe e me respira, toma banho comigo, me desatina, me agita, me salva. De mim mesma me salva. Nada pontual. Me escande em muitas sílabas, de fé e silêncio e desejo. Me lava os pés, os olhos, muda esfinge de água. Me enxuga e me veste. E finalmente me acorda: roupas velhas, alma nova. Todo dia, o amor faz em mim tudo sempre igual. Me escolhe, me constrange, senta comigo, tomando café. Molha comigo as plantas, olhando pela varanda, paisagem de estanho e neblina. Às vezes muito azul, às vezes domingo. Às vezes feriado de sol. Manda mensagens, o amor, pelas minhas mãos já antigas. Chora comigo, calado, esperando que alguém interrompa essa forma fútil e febril de fazer contato comigo mesma. Depois ri, desatinado e urgente. Bobo de esperança e carinho. Pleno de cuidados, ele me chama menina. Tola, melancólica, poeta. Larga pra lá e vai pela rua assoviando.

Professorar

Foto: Girly Lifestyle ...Since feeling is first who pays any attention to the syntax of things will never wholly kiss you... E E Cummings A compreensão correta d e uma coisa e a má compreensão dessa mesma coisa não se excluem completamente. Kafka Guimarães Rosa começa: professor é aquele que, de repente, aprende. Eu vou continuando: professor é aquele que, de repente, desaprende. Eu tenho desaprendido. Eu tenho aprendido a desaprender. E tenho aprendido a sinceramente acreditar. Que o outro aprende sim. Mas não sou eu que ensino. Somos nós que entramos em um estado de contato. E alguma coisa acontece. Uma coisa que continua. Nem sempre pra sempre. Mas continua. É como orar. Você se entrega a uma coisa maior. E ela de repente acontece. É um estado de amor. E de alegria. Amor pelo desconhecido. Amor pelo impossível. Sim, porque é impossível ensinar. Impossível transmitir. Mas é possível colocar em movimento. Começar. Encontrar-se com. Tocar. Tornar talvez possível. Tornar o encontro pos

ufa!

Ao fim e ao cabo, estamos reduzidos a ser uma coisa que espera. Um sopro de vento, aragem de alívio. Um sorriso. Uma prova, uma resposta, uma dádiva. Um gesto. Uma saída. Mas pode bem ser que toda esperança seja apenas um modo esquivo de recusar o milagre. Do que já está insuportavelmente sendo.

Montes Claros

Há coisas que não se explicam. Como um modo de amar o passado. Umas ruas empoeiradas. Uma praça, umas igrejas e duas escolas. Minha casa. Há coisas que não se explicam. Como um modo de amar uma cidade. Uma cidade que não pude enfrentar por 11 anos. Como um modo de silenciosamente dizer: Mãe, eu não pude mais voltar. Mas voltei. Caminhei tudo de novo. Refiz todos os meus passos. Um por um. Primeiro, a escola. Dei a aula que tinha que dar, na mesma escola que me abrigou dos 10 aos 16 anos. A aula foi longa, e nela couberam infinitas coisas. A primeira aula de literatura, claro. E o primeiro amor. O espaço breve e intemperante de cada uma das salas de aula. E os corredores de cimento. Os bancos onde crescíamos, tontos de mundo. E a dor de pertencer. Os discursos alados. Os discursos perdidos. Olhos e vozes esquecidas, perdidas no desdobrado ensandecido do tempo. A aula foi longa, e nela couberam tantas coisas. Todas elas inexplicáveis. Todas elas urgentes. Da urgência doce e melodi

Concurso de Literatura!

Achei a iniciativa bacana e estou ajudando a divulgar... ____________________________________________________ A Universidade FUMEC está com inscrições abertas para a primeira edição do Prêmio de Literatura Universidade FUMEC , que tem o objetivo de incentivar a leitura e a produção literária no país, prestigiando obras inéditas e estimulando estudantes de todo o Brasil a investirem na carreira literária. O gênero escolhido para o lançamento do prêmio é o conto , forma narrativa em prosa de menor extensão. Podem participar alunos regularmente matriculados em escolas de ensino médio e superior de todo o país. De acordo com o reitor da Universidade FUMEC, professor Antônio Tomé Loures, o Prêmio é uma forma de estimular a criação e o talento de jovens que têm afinidade com a Literatura. “A universidade tem um papel muito importante no desenvolvimento da imaginação dos jovens. Temos que motivá-los a investir na escrita a partir de iniciativas como essa. A arte, em especial a Literatura, e