Eu falo de um dia como muitos dias. Esquina, almoço, vitrines, mendigos. Eu falo de um dia como tantos outros. Chuva, mormaço, atrasos, relógios. Eu falo de um dia em que a porta se abre, E lá fora vemos suspensas surpresas. Os jornais dizem: as coisas mudaram! E esse dia não é mais como os outros. Mas o mundo não muda muito. Ou tanto. Tudo continua a crescer, com bastante força. O ódio, a fome, a dor, os impropérios. A esperança também cresce, essa senhora daninha, Estranha esperança que não morre nunca. Ela cresce e me comove, como se o mundo fosse outro, E o dia de hoje não fosse como tantos. Ela cresce e me comove, como se o dia fosse inteiro. E o mundo de hoje não fosse quase o mesmo. Ela cresce e me comove, como se o amor fosse novo. E o desejo de hoje não fosse desde sempre.