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Mostrando postagens de maio, 2008

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"Por esses longes todos eu passei, com pessoa minha no meu lado, a gente se querendo bem. O senhor sabe? Já tenteou sofrido o ar que é saudade? Diz-se que tem saudade de idéia e saudade de coração... Ah." Guimarães Rosa (GSV)

Sim.

Sim, meu amor, eu estou aqui. Eu estarei sempre aqui. Pro que der e vier. Na saúde e na doença. E em seus intervalos. Na alegria e na tristeza. E quando vierem os amigos. No tédio e no abandono. E quando tudo for insuportável. Na miséria e no repouso. E no meio da rua. Na esquina e no silêncio. E no domingo à tarde. Na hora do almoço. Na hora do banho. Na virada do tempo. No resfriado. Na ressaca e na bebedeira. Na saideira. Nas estréias de cinema. Nas estradas empoeiradas de minas. Nos aeroportos que ainda conheceremos. Na nossa primeira viagem de avião. E de navio. No futuro. No tempo desobrigado do futuro, onde podemos sonhar sem ser vistas. No fio do tempo. No espelho de água. No grito de socorro. Nos nossos sobrinhos. No espanto. Na dor de te perder. E de tentar te reconquistar. Na chuva e no sol e nos labirintos da mente. No outono e nos dias frios de inverno. Em silêncio, te vendo crescer, como uma nuvem que expande seus calafrios pelo céu de outubro. Como uma música leve, que f

Longe, muito longe...

Corinne Homenagem a Edward Hopper Clark et Pougnaud O que era casa, transforma-se rapidamente em distância. O mundo perde as beiradas. É inverno de novo. E de novo, no caminho, há portas demais. E janelas desencontradas. E alçapões, e escadas, e porões, e trincheiras. Ando cada vez mais sozinha, o riso quebradiço, partido no meio. A espera em forma de espanto, o corpo denso, contando as horas para dormir, afundar em sonhos, em sono, em disforme semeadura, em planta aquosa e verde. Foi preciso voltar sobre os passos. Reencontrar as ruas perdidas. O gelo. A fome. O tempo anda pedregoso. Sólido. Difícil de engolir. Nada mais é o mesmo. E no entanto, eu conheço todas essas praças. Frias paragens. Neblinas. Dizem que, de tempos em tempos, a dor volta, toda inteira. A minha é a mesma e é outra. Toda uma história que finda, que afunda, que afasta. Vai passar, eu sei. Quisera não ter essa sabedoria, não ter sofrido nunca, não ter perdido. E quisera, ainda com mais força, não ter tudo isso de

Pas-de-Deux

- Sempre quis escrever um diálogo... - E por que não escreve? - Só consigo conversar comigo mesmo. - E daí?! Escreve isso, então. - Conversar consigo mesmo não é diálogo. - É sim. - Não acho, não. Num diálogo, é bom que se vejam as diferenças entre as pessoas. Os modos de impasse. - Pois é, mas você mesmo não é assim tão coeso que não haja partes de você que não possam brigar umas com as outras. - Não é brigar. - Tá, dialogar. - Mas eu ainda não entendi como eu poderia fazer isso... - Ok, tipo assim, uma parte de você ama, a outra não sabe se é aquilo mesmo, uma parte ode... - Isso é muito manjado. - E qual é o problema? - Eu queria fazer um diálogo mais criativo, sabe? Uma conversa que ninguém teve com ninguém. Uma conversa entre dois seres que jamais poderiam se comunicar. - E você acha que isso não existe em você? - Dois seres que não se comunicam? - É. - Não sei, eu teria que pensar mais a respeito. -Viu?!!! - Vi o quê? - Isso que você falou! - O quê? - Ué, se você vai pensar mais