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Mostrando postagens de setembro, 2010

De novo...

Fratura é coisa sem termo. E não é não. Depois do corte, o espanto. A dor, o ponto, o gelo. A sutura imperfeita. O alarido das coisas que não cessam. Que não se rendem. Depois, depois. A coisa cicatriza. Mas fica na pele feito coisa que termina. E de vez em quando se agita e geme e ferve. E toma conta. Como aquele sorriso perdido entre balbúrdias. Como um afago incompleto. Resto de um silêncio sem partida, sem contornos. Ao depois passa. Mas de vez em quando volta. A queda, o grito, o sonho. Volta como quem perde uma amiga. Surdo e exposto. À deriva.

Aliás

Aneta Grzeszykowska e Jan Smaga Aliás, o medo. É sobre o medo que eu queria falar, agora me lembro. Me lembro mesmo muito bem, ele está aqui. Ele está aqui comigo. O tempo todo. Era isso que eu queria falar. Meu medo não é paralisante, como dizem por aí. Não é disso que se trata. Se trata de falar do medo. É disso que eu quero falar. Mas ele me escapa. Me escapa sempre, como quem foge, mas está sempre por perto. Como quem está atrasado, mas ainda nem partiu. Ele está sempre por perto. Mas não me paralisa, não, como dizem por aí. Ele me movimenta. Meu medo organiza tudo. Dá corda aos relógios, levanta os muros. Meu medo acorda, anda comigo pela estrada, me traz sombra e susto, me suspende. Escreve comigo diários de medo, máquinas medrosas, escolhas perfiladas. É isso. É assim que acontece. Ele dá as cartas. O tempo todo. Meu medo é um sumidouro. Faz desaparecer o dia, a noite, os anos inteiros. Me leva com ele pro abismo, me faz cair por tempo indefinido, me faz conversar com os gatos.