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De novo...

Fratura é coisa sem termo.

E não é não.


Depois do corte, o espanto.

A dor, o ponto, o gelo.

A sutura imperfeita. O alarido das coisas que não cessam.

Que não se rendem.


Depois, depois. A coisa cicatriza.

Mas fica na pele feito coisa que termina.

E de vez em quando se agita e geme e ferve.

E toma conta.


Como aquele sorriso perdido entre balbúrdias.

Como um afago incompleto. Resto de um silêncio sem partida,

sem contornos.


Ao depois passa.

Mas de vez em quando volta.

A queda, o grito, o sonho.


Volta como quem perde uma amiga.

Surdo e exposto.

À deriva.

Comentários

marcelo disse…
a q lindo...
rebecca sempre no ponto,
precisa.
Val Prochnow disse…
Rebequinha, vc deve imaginar o quanto esse poema me pegou de jeito! E como sempre acontece com teus textos, me pegou na medida certa!
saudades!
beijos grandes
Val
Unknown disse…
Lu bê e Val, fico feliz que gostaram! Esse texto já teve uns 3 formatos, mas acabou assim... bom, talvez seja melhor dizer que agora ele começa, né?
: D
Unknown disse…
muito bom! parabéns!
Você toca fundo amiga!!!Amo o que escreve!
Unknown disse…
Obrigada, Cris! (e eu amo vc!)

Obrigada, Mi!
Crente disse…
que coisa horrível!
que síntese perfeita nas duas primeiras frases: e não é não: uma frase ciclo, uma frase cujo início é o fim. não é não: a realidade da própria fratura: a fatalidade exposta nessa frase minúscula, talvez como a ferida de um prego: um ponto só, mas profunda, profundo: a Resposta ecoante: o que fechou em forma de cicatriz, um túmulo: encerra um morto, mas o próprio túmulo, está vivo.


beijo, Rebeccinha, Glauber.
Unknown disse…
"O próprio túmulo está vivo"... ADOREI!
Junior Oliveira disse…
bom blog excelente! felicidades

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