Há um modo de ser da esperança que é quase um hiato, um espantado modo de olhar para o mundo, para o tempo, para o desejo. É um modo de ser enviesado, doloroso, quase ritual. É um modo de viver sem pensar no que está perdido, nem no que virá. É um modo de ser meio ao meio.
Há momentos de suspensão, e dúvida, em que tudo parece estar tomado de uma luz frouxa de banalidade. Há momentos de lento apodrecimento. Há momentos em que a pele fica mais leve, quase fluida, de tão insossa. Há momentos em que a história parece escoar por dutos rasos, sobrevoando sôfrega a superfície das coisas, esquecendo-se do endurecimento do tempo. Há momentos sem angústia, sem crise, de puro cansaço mórbido, amolecido, dormente. Há momentos em que a vida é lívida espera, quase doce de tão frívola.
Há momentos que são como feitos de ar: existem, mas não se pode vê-los, nem tocá-los, nem mesmo recuperar sua memória - vulgarmente pálida, nem trágica nem cômica. Há momentos em que as palavras são sonoras, mas não dizem nada. Apenas esperam.
Há momentos assim.
E outros mais vivos.
Comentários
Adorei o post.Bjs
"O silêncio não quer ser sozinho então ele fala. Quem escreve ouve porque cala. Quem escreve escava
O que o silêncio palavra."
Viviane Mosé
um beijo nos seus silêncios!
E Lu mãe, que delícia vc por aqui! Saudades... obrigada pelo carinho!
Marina, adorei esse presente que vc me deu... esse pequeno poema diz muito, diz demais...
meu silêncio ficou todo encantado!