A casa da escrita é desenhada aos poucos. Em febre e vício. Em cada traço, segue-se o rastro de algo que se despossuiu, que foi se desmanchando de si, para atingir algo que não era ele mesmo, mas acabou sendo. Em cada linha, em cada ênfase, em cada perspectiva, dorme uma espera que não se conclui, que não pode acabar.A casa da escrita é a minha casa, feita de um quase papel, de uma quase miséria: a de não poder alcançar.A casa da escrita é feita de olhares alheios, de algumas derrotas, de doces traições. De íntimas alegrias se faz, de pequenas coisas, de brevíssimas notas.
Dizem que ela cresce e se movimenta no espaço, mas é no tempo do instante que ela fulgura sua pálida suavidade, sua impressionante estatura. Fugaz e tímida, ela nem sempre se mostra.Mas entre um susto e outro, ela acontece.
O amor é feito de quedas e sustos, de espanto e de silêncios, de trajetórias estranhas e fomes diversas. O amor é feito de cobre. Dura muito, mas muda de cor com o tempo. O amor é feito de pedras aladas, de tristezas ocultas, de sílabas desconexas. O amor é feito de escolhas. Mas algumas dessas escolhas são fatais. Ou fatídicas. O amor às vezes não existe. É feito rio correndo: tem suavidade e orgulho, mas carrega areia e dejetos. O amor também é feito de vento e de geografias. De lutas e reentrâncias. O amor é feito de sede. E de febres.
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um beijo enorme!