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2 de novembro

Naquela primavera insidiosa e exuberante, onde as flores explodiam pelo calor enervado e vagamente úmido da tarde, ávida de chuva e raios, naquela primavera de febre e sono, onde a luz do sol nas janelas esmorecia de torpor os móveis todos da casa, em um daqueles dias sedentos e amolecidos, onde tudo flutuava devagar ao redor de sua pele delicada de moça, naquela tarde, enfim, paradamente vibrante, ela finalmente cedeu.
O sexo foi lento e suado, como pedia o escaldante do dia, e durou muito pouco, dado o esgotamento dos ânimos, mas ficou-lhe gravado para sempre na memória.
Não porque tivesse sido o primeiro. Não pelo seu insuflado e latejante cenário. Não porque o moço, funcionário recém-contratado dos correios, tivera a idéia de buscar gelos na cozinha e refrescá-la com suavidade de apaixonado. Não por tudo isso.
Mas porque era dia dos mortos.
E nesse dia não se faz essas coisas.

Comentários

Daniel disse…
ah mas eu gostei demais! super me identifico com os raciocínios simples que brotam no meio da poesia toda.
Amiga blogueira, obrigada pela dica do conto do Machado de Assis sobre os braços! E amei esse conto "suado"...
Abração!
Míriam

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