Ela sempre vivera dentro dágua. Por isso acabou reconhecendo que seus líquidos sobressaltos, além de mais tortuosos, eram sedutoramente infiéis. E quase mortais.
...
Foi assim, primeiro a mãe a matriculou numa escola de natação. Depois, ela aprendeu a viver daquilo: a respirar dentro da piscina como se fosse peixe. A pular entre as raias com estrondo e fúria. A domesticar o ar do fôlego e a vibrar braçadas ritmadas, plásticas, seguras. E rápidas. Muito rápidas.
Ela ficou então. Quase uma atleta. Rápida e profunda. Mergulhadora dos espaços sempre azuis das águas. Piscina e mar. E rio, de vez em quando. Mas rio é mais perigoso, dizia a mãe, que quase se afogara quando era criança. E só foi salva, dizia ela, porque estava de fita vermelha no cabelo.
E na correnteza em que a mãe ia, rio abaixo. Viram a fita boiando.
Ela ficava admirada da história. Afinal, só existia por causa da fita. Bom, não só, mas a fita tinha sido importante.
Ela é a mãe tinham sido escolhidas pra viver. Pelos acasos e águas do mundo. Sim, porque também ela, ainda menina, quase morrera afogada algumas vezes.
Duas no mar. Seu grande susto. Uma na piscina.
Passou, então, a juntar fôlego. A se adestrar no domínio intangível dos pulmões. Nunca se sabe quando se vai precisar deles.
E foi crescendo assim. Nadadora.
Descobriram, na escola, que ela treinava (e, às vezes, ganhava algumas competições da escolinha de natação). E sua existência de menina tímida e sem graça passou a ter algum brilho.
Daí pra quererem que ela competisse pela sala, foi um pulo. Ou melhor, um desastre.
Poucos se inscreveram pra tal da “mini-olimpíada” que as professoras organizaram. Na natação, só havia duas concorrentes. Ela, e a menina mais bonita da escola (pelo menos na sua opinião).
Era a sua chance, pensou. Afinal, a menina mais bonita nem treinava nem nada. E eram só as duas. Não seria muito difícil. Ela ia sem dúvida ganhar. Afinal, era a escolhida das águas.
No dia D., a mãe do lado, foram pra piscina olímpica da cidade.
(Primeira lição das competições: sempre é bom conhecer a arena da luta. ANTES da luta.)
Pois é, ela nunca tinha nadado numa piscina olímpica. Bom, pelo menos, de acordo com a menina mais bonita da escola, não era a única.
- Vamos treinar antes? Perguntou a adversária.
(lição dois, para o futuro... jamais confie nos adversários, principalmente quando eles são muito bonitos)
- Vamos sim.
E foram.
Ela ganhou as duas corridas de treino, e a menina bonita nem ligou pra isso. Depois brincaram, e riram, e pularam cambalhota, e mergulharam e fizeram de tudo. Ela sempre tentando dar o máximo de si. Tensa, em estado de êxtase, excitação e exibição máximos.
E a menina bonita só ria. Linda que só ela. Iluminando a piscina inteira. E todos os outros sóis atrás do sol.
No meio do brinquedo, as professoras e mães chamaram. Estava na hora.
Na hora da competição.
- Estão prontas?
(terceira lição: nunca minta quando em risco de vida)
- Estamos!
- Posição!!!
- Mas já?!
- Você não estava pronta?
- Estou um pouco sem fôlego, professora. Deixa eu descansar um pouco?
- Tá. Um minuto.
(quarta lição: um minuto e nada é a mesma coisa, especialmente em casos de vida ou morte)
- Já!
E nadou. E nadou. E nadou. Com a máxima velocidade que podia e conhecia.
Mas perdeu.
A menina mais bonita da escola, que nem treinava nem nada, ganhou a prova por uma braçada.
Mas ganhou.
E ela, a escolhida das águas, encolheu-se em sua tristeza. E decidiu nunca mais competir. E talvez até morrer.
...
Bom, pelo menos até uma outra menina perguntar onde ela aprendera a nadar tão bonito: “a menina que ganhou é bem mais rápida, mas é tão desajeitada...”
(quinta lição: nada como o tempo, uma hora depois da outra, etc...)
- Você acha que eu nado bem?! (prendendo o fôlego...)
- Com certeza! É lindo.
...
(sexta e última lição: é sempre bom preservar os pulmões. Nunca se sabe quando se vai precisar deles.)
- Você quer me ver saltar?!
- Quero!!! Salto mortal?
- É. Salto mortal.
...
Foi assim, primeiro a mãe a matriculou numa escola de natação. Depois, ela aprendeu a viver daquilo: a respirar dentro da piscina como se fosse peixe. A pular entre as raias com estrondo e fúria. A domesticar o ar do fôlego e a vibrar braçadas ritmadas, plásticas, seguras. E rápidas. Muito rápidas.
Ela ficou então. Quase uma atleta. Rápida e profunda. Mergulhadora dos espaços sempre azuis das águas. Piscina e mar. E rio, de vez em quando. Mas rio é mais perigoso, dizia a mãe, que quase se afogara quando era criança. E só foi salva, dizia ela, porque estava de fita vermelha no cabelo.
E na correnteza em que a mãe ia, rio abaixo. Viram a fita boiando.
Ela ficava admirada da história. Afinal, só existia por causa da fita. Bom, não só, mas a fita tinha sido importante.
Ela é a mãe tinham sido escolhidas pra viver. Pelos acasos e águas do mundo. Sim, porque também ela, ainda menina, quase morrera afogada algumas vezes.
Duas no mar. Seu grande susto. Uma na piscina.
Passou, então, a juntar fôlego. A se adestrar no domínio intangível dos pulmões. Nunca se sabe quando se vai precisar deles.
E foi crescendo assim. Nadadora.
Descobriram, na escola, que ela treinava (e, às vezes, ganhava algumas competições da escolinha de natação). E sua existência de menina tímida e sem graça passou a ter algum brilho.
Daí pra quererem que ela competisse pela sala, foi um pulo. Ou melhor, um desastre.
Poucos se inscreveram pra tal da “mini-olimpíada” que as professoras organizaram. Na natação, só havia duas concorrentes. Ela, e a menina mais bonita da escola (pelo menos na sua opinião).
Era a sua chance, pensou. Afinal, a menina mais bonita nem treinava nem nada. E eram só as duas. Não seria muito difícil. Ela ia sem dúvida ganhar. Afinal, era a escolhida das águas.
No dia D., a mãe do lado, foram pra piscina olímpica da cidade.
(Primeira lição das competições: sempre é bom conhecer a arena da luta. ANTES da luta.)
Pois é, ela nunca tinha nadado numa piscina olímpica. Bom, pelo menos, de acordo com a menina mais bonita da escola, não era a única.
- Vamos treinar antes? Perguntou a adversária.
(lição dois, para o futuro... jamais confie nos adversários, principalmente quando eles são muito bonitos)
- Vamos sim.
E foram.
Ela ganhou as duas corridas de treino, e a menina bonita nem ligou pra isso. Depois brincaram, e riram, e pularam cambalhota, e mergulharam e fizeram de tudo. Ela sempre tentando dar o máximo de si. Tensa, em estado de êxtase, excitação e exibição máximos.
E a menina bonita só ria. Linda que só ela. Iluminando a piscina inteira. E todos os outros sóis atrás do sol.
No meio do brinquedo, as professoras e mães chamaram. Estava na hora.
Na hora da competição.
- Estão prontas?
(terceira lição: nunca minta quando em risco de vida)
- Estamos!
- Posição!!!
- Mas já?!
- Você não estava pronta?
- Estou um pouco sem fôlego, professora. Deixa eu descansar um pouco?
- Tá. Um minuto.
(quarta lição: um minuto e nada é a mesma coisa, especialmente em casos de vida ou morte)
- Já!
E nadou. E nadou. E nadou. Com a máxima velocidade que podia e conhecia.
Mas perdeu.
A menina mais bonita da escola, que nem treinava nem nada, ganhou a prova por uma braçada.
Mas ganhou.
E ela, a escolhida das águas, encolheu-se em sua tristeza. E decidiu nunca mais competir. E talvez até morrer.
...
Bom, pelo menos até uma outra menina perguntar onde ela aprendera a nadar tão bonito: “a menina que ganhou é bem mais rápida, mas é tão desajeitada...”
(quinta lição: nada como o tempo, uma hora depois da outra, etc...)
- Você acha que eu nado bem?! (prendendo o fôlego...)
- Com certeza! É lindo.
...
(sexta e última lição: é sempre bom preservar os pulmões. Nunca se sabe quando se vai precisar deles.)
- Você quer me ver saltar?!
- Quero!!! Salto mortal?
- É. Salto mortal.
Comentários
Abraço
eles me deram um "notable" na tesina!
uauauauauauuauauauauauauau!
tô feliz!
bjus!
Beijos,
Dani Gusmão.
beijocas,
Val
Janine, Parabéns, Parabéns!!! Não te falei que ia dar tudo certo?! Agora é a hora de comemorar!
Dani, que bom te ver por aqui de novo! Obrigada, obrigada!
E Val, seus elogios me deixam deveras emocionada!!! O esforço é diário, mas nem sempre o resultado corresponde a ele, né? Beijos, querida!
Amei!
Beijos, alegrias e poesias,
Daniel Rubens Prado.
Bom mergulho!!! : )