Pular para o conteúdo principal

Gangorra

Das duas, uma. Ou tinha coragem, ou não tinha coragem. Mas as coisas não eram bem assim.

Porque no fundo mesmo da maior coragem havia uma coisa talvez maior, ou menor, e a que normalmente se chamava de não-saber. Não saber participava do medo, mas participava da coragem também.

Ah, porque se soubesse tudo, podia a coragem diminuir, e até completamente acabar. Ou de repente, ficar ainda maior.

Mas nunca se sabia. Nunca se sabia o que verdadeiramente ia acontecer, uma vez que se fizesse – o quê? aquilo que se estava reunindo coragem pra fazer. Isso era o que dava o maior medo. Mas isso era o que também permitia ir. De olhos fechados, ir. No escuro mais escuro, ir. Morrendo de medo e de coragem, ir.

Podia-se imaginar, tentar prever, tentar abarcar todas as possíveis possibilidades e hipóteses, mas ainda assim, não se sabia. Não se sabia a fundo e a tempo. Não se sabia, mas ia-se.

Ia-se para a frente. Para o futuro. Para o não saber. Para aquele instante tão vulgar e tão milagroso. O daqui a pouco.

Das duas, uma. Ou ligava pra ele logo de uma vez. Ou não ligava.

Mas as coisas não eram tão simples assim.

Ou eram?



Comentários

Ana disse…
putz rebequinha, que ótimo! como sempre, uma delícia! Beijo grande! Ana Flávia
Unknown disse…
Aninha, que saudades!!!

Brigada pela visitinha, volta mais, viu?!

; )
Crente disse…
alguns títulos imprimem, elevam o poema a uma potência inimaginável. acho que esse é o dom da gangorra.
Sil disse…
água nos olhos.

Postagens mais visitadas deste blog

Fazendo o balanço...

Em 2007, eu... Fiz novos amigos. Fiz o que pude pra guardar um tempinho para os velhos amigos, tão queridos... mas nem sempre consegui. Trabalhei bastante, mas sonhei ainda mais... Talvez demais. Tive pesadelos, mas acordei com alguém do meu lado... Senti muita falta da minha mãe. E mais ainda do meu pai. Falei a verdade. E me arrependi. Às vezes menti... Redescobri a Edith Piaf... e aprendi mais sobre arrependimentos. Tive muito medo, mas me socorreram a tempo... Saí da natação (mas pretendo voltar, juro!)... E engordei um pouco (eufemismos sempre são úteis). Vi dezenas (ou seriam centenas?) de filmes ótimos... E outros nem tanto... Vi duas peças magníficas! Rubros ... e Atrás dos Olhos das Meninas Sérias (se elas aparecerem em cartaz, corram pra lá!). Perdi a paciência... inúmeras vezes... Chorei de desespero... Mas me acalmei depois. Chorei de alegria - algumas vezes. Descobri o maravilhoso mundo encantado dos blogs... Descobri que toda vez que eu descubro algo novo, eu fico deslu

...

"Por esses longes todos eu passei, com pessoa minha no meu lado, a gente se querendo bem. O senhor sabe? Já tenteou sofrido o ar que é saudade? Diz-se que tem saudade de idéia e saudade de coração... Ah." Guimarães Rosa (GSV)

À maneira de Ulrica

Para Silk... Sobre ela, pouco se podia dizer. Dizia-se de sua pele comovente, expansiva em forças. Explosiva ternura. Dizia-se de sua beleza. De seus girassóis. Leveza vibrátil e ardente, tocada pelo fogo, marcada por seu inexaurível mistério. Dizia-se de sua febril intensidade. Seus olhos. Ardorosa meditação sobre a alegria. Dizia-se de sua vibração aquática, humores e fluidos em infatigável doçura. Dizia-se de sua proximidade com os ventos. De sua liberdade cantante de moça do ar. Dizia-se de sua densidade terrestre. Da disposição para o encanto. Das exigências do corpo. Das pernas. Falava-se, sempre e sempre, acerca da conformação sutil de seus quatro elementos. Caleidoscópicos. Sutis neblinares de tímida e rutilante orquestração. Dizia-se que era criança e mulher. E que podia ser encantadoramente nossa em certas noites de lua cheia. Ou quando do encontro de certos tipos de amuletos. E de suspensórios. E mais não se podia dizer. Porque seria sempre muito pouco. Para saber mais sobr