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Gangorra

Das duas, uma. Ou tinha coragem, ou não tinha coragem. Mas as coisas não eram bem assim.

Porque no fundo mesmo da maior coragem havia uma coisa talvez maior, ou menor, e a que normalmente se chamava de não-saber. Não saber participava do medo, mas participava da coragem também.

Ah, porque se soubesse tudo, podia a coragem diminuir, e até completamente acabar. Ou de repente, ficar ainda maior.

Mas nunca se sabia. Nunca se sabia o que verdadeiramente ia acontecer, uma vez que se fizesse – o quê? aquilo que se estava reunindo coragem pra fazer. Isso era o que dava o maior medo. Mas isso era o que também permitia ir. De olhos fechados, ir. No escuro mais escuro, ir. Morrendo de medo e de coragem, ir.

Podia-se imaginar, tentar prever, tentar abarcar todas as possíveis possibilidades e hipóteses, mas ainda assim, não se sabia. Não se sabia a fundo e a tempo. Não se sabia, mas ia-se.

Ia-se para a frente. Para o futuro. Para o não saber. Para aquele instante tão vulgar e tão milagroso. O daqui a pouco.

Das duas, uma. Ou ligava pra ele logo de uma vez. Ou não ligava.

Mas as coisas não eram tão simples assim.

Ou eram?



Comentários

Ana disse…
putz rebequinha, que ótimo! como sempre, uma delícia! Beijo grande! Ana Flávia
Unknown disse…
Aninha, que saudades!!!

Brigada pela visitinha, volta mais, viu?!

; )
Crente disse…
alguns títulos imprimem, elevam o poema a uma potência inimaginável. acho que esse é o dom da gangorra.
Sil disse…
água nos olhos.

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