Na venda tinha de tudo. Até coisas de beleza e de limpeza. E de comida. Coisas muitas, variadas. Embelezadas umas pelas companhias das outras assim todas juntas em quantidade. Em variedade. Em teórica limpeza. Em anonimato. Ficavam ali esperando a gente. Disponíveis. Datadas, carimbadas, especificadas, controladas, repassadas, qualificadas. Inertes na prateleira e se movendo na cabeça da gente. Ótimas. Refesteladas nas prateleiras. E tinha facas também, a venda. Tinha faca de todo jeito. Facas para comer e para passar patê. Facas para pegar peixe e pegar bicho. Facas brilhantes e foscas. Facas de caça, de pesca, de morte. Facas para enfiar no outro e para enfiar no olho. Facas de cirurgião e de colocar embaixo do colchão. Facas de crime e facas de paz. Facas cantantes, sedutoras, afinadas. E afiadas. E tinha também, logo atrás do balcão, uma vendedora dessas de sempre e de nunca mais vou te ver. Era assim miúda, com a cara redonda de menina nova. Bochechuda, meio suja da poeira eterna ...