Então me lembro das senhoras mortas do meu andar. Duas, pra ser mais exata. Duas mulheres que nunca conheci, a não ser de vista. Encontros no elevador e no hall do prédio. Diálogos interrompidos pela chegada ao andar certo. Seu caminhar arrastado, denunciando outros tempos. Outras histórias. Interrompidas ou terminadas? Apenas histórias. Meu andar agora está quase vazio. Dois apartamentos estão decerto tristes, ou pelo menos saudosos de suas donas, esvaziados de um cuidado e de uma doçura que os plangia e afinava. Agora, devem estar quase tão mortos quanto elas. Duros e graves. Saciados de uma rotina material e física que sua fixidez reforma continuamente. Todos os dias. Espaços solidamente antiquados, cuja altivez é menos incansável do que ridícula. Imagino-os vencidos, observando o tempo que passa. Acompanhando o degradar inóspito das paredes escuras. O cheiro sufocado dos objetos que não têm mais serventia. Eles se desenham no meu espírito, continuadamente. Quando chego em casa....