Para não esquecer Irene, comprei uma semente. Espero fazê-la crescer em verdes frases. Espasmódicas e espantadas como um soluço. Ardorosas como uma veemência. Meu texto é uma porta para dentro e para trás. Por isso plantei a semente. Para talvez lembrar, mergulhar, dissolver. Meus dedos virgens ensinam, nunca se deve perfurar a terra. Ou o passado. Escrever é uma coisa crua. Talvez dilacerante, talvez cantante, mas sempre uma coisa suja, isso aprendi. A terra tem abismos desconfortáveis. Epigramáticos. Ela é feita de folhas e pedras. De mortos. A memória é feita de mortos. A página é dura e estóica, mas aos poucos me acostumei com sua terrosa ossatura. Como um deus adulto e calmo, concentro-me em mim mesma. Faço torrenciais as águas que, de tão limpas, fazem de verde as plantas. Molho a terra do vaso, onde a sedenta semente espera. Lembro que vivi um dia, úmida de cloro, amor e águas de piscina. Um traço se estabelece na página vívida e branca da narrativa. O risco invade, prenuncia, ...