Corinne Homenagem a Edward Hopper Clark et Pougnaud O que era casa, transforma-se rapidamente em distância. O mundo perde as beiradas. É inverno de novo. E de novo, no caminho, há portas demais. E janelas desencontradas. E alçapões, e escadas, e porões, e trincheiras. Ando cada vez mais sozinha, o riso quebradiço, partido no meio. A espera em forma de espanto, o corpo denso, contando as horas para dormir, afundar em sonhos, em sono, em disforme semeadura, em planta aquosa e verde. Foi preciso voltar sobre os passos. Reencontrar as ruas perdidas. O gelo. A fome. O tempo anda pedregoso. Sólido. Difícil de engolir. Nada mais é o mesmo. E no entanto, eu conheço todas essas praças. Frias paragens. Neblinas. Dizem que, de tempos em tempos, a dor volta, toda inteira. A minha é a mesma e é outra. Toda uma história que finda, que afunda, que afasta. Vai passar, eu sei. Quisera não ter essa sabedoria, não ter sofrido nunca, não ter perdido. E quisera, ainda com mais força, não ter tudo isso de ...