Celestina era moça direita e engomada, gostava de rosas e de suspiros quentes. Passava as tardes costurando com a mãe, e as manhãs ensaiando um modo de dizer a seu vizinho Demerval o quanto o amava. Escrevia cartas, fazia músicas, assava bolos. Seus poemas eram intermináveis; suas rimas, sofridas e urgentes. Eram delicadas. Mas não podiam atingi-lo. Demerval parecia ser muito exigente. E não tinha a menor cara de quem gostava de doces.
Acontece que o modo limpo e claro com que ela o amava, uma vez exposto, uma vez marcado, uma vez cantado, uma vez declarado em papel de seda, assado no forno ou aceso na boca em forma de riso, ficava roto e sofria, murchava e caía, em petição de miséria.
Não é bem isso... pensava a moça, com o bolo esfriando nas mãos, com a canção de amar se desmanchando no colo.
Essas permanentes - e talvez inglórias - lacerações na pele fina do amor foram fazendo de Celestina uma moça cada vez mais direita. E cada vez mais engomada.
Aboliu as rosas, porque tinham espinhos. Aboliu os versos, já que eram pobres. Desprezou bolos e suspiros, porque eram frágeis e tolos.
Acontece que o modo limpo e claro com que ela o amava, uma vez exposto, uma vez marcado, uma vez cantado, uma vez declarado em papel de seda, assado no forno ou aceso na boca em forma de riso, ficava roto e sofria, murchava e caía, em petição de miséria.
Não é bem isso... pensava a moça, com o bolo esfriando nas mãos, com a canção de amar se desmanchando no colo.
Essas permanentes - e talvez inglórias - lacerações na pele fina do amor foram fazendo de Celestina uma moça cada vez mais direita. E cada vez mais engomada.
Aboliu as rosas, porque tinham espinhos. Aboliu os versos, já que eram pobres. Desprezou bolos e suspiros, porque eram frágeis e tolos.
E foi nessa toada, nesse regime, que o tempo passou.
De corte em corte, de recisão em recisão, Celestina foi ficando cada vez mais firme, cada vez mais seca, cada vez mais dura.
De corte em corte, de recisão em recisão, Celestina foi ficando cada vez mais firme, cada vez mais seca, cada vez mais dura.
Demerval foi ficando pra ela ainda mais distante, cada vez mais pequenino, cada vez mais exigente, cada vez mais impossível. Os poemas foram amarelando nas gavetas. Celestina foi perdendo a cor e as estribeiras. O jardim foi ficando turvo e gripado. Nada podia vingar ali. Nem mesmo uma boa história.
...
Mas um dia, Celestina-mulher ia direita e engomada pela rua quando viu Demerval-já-mais-velho na frente do seu portão, com uma caixa de madeira no ombro.
- São mudas de roseira, ele disse... eu sinto falta do cheiro... será que você não se anima de voltar a plantá-las? Faz tanto tempo...
- Não posso mais - ela disse – acho que perdi o jeito.
- Que pena... mas você tem certeza? Suas rosas eram as mais bonitas da rua. Eu gostava tanto delas.
- Eu plantava elas pra você.
- Jura?
- Hum-hum...
- E por quê?
- Porque eu te amava.
- ...
- Celestina?
- Sim?
- Você gosta de suspiros?
...
Mas um dia, Celestina-mulher ia direita e engomada pela rua quando viu Demerval-já-mais-velho na frente do seu portão, com uma caixa de madeira no ombro.
- São mudas de roseira, ele disse... eu sinto falta do cheiro... será que você não se anima de voltar a plantá-las? Faz tanto tempo...
- Não posso mais - ela disse – acho que perdi o jeito.
- Que pena... mas você tem certeza? Suas rosas eram as mais bonitas da rua. Eu gostava tanto delas.
- Eu plantava elas pra você.
- Jura?
- Hum-hum...
- E por quê?
- Porque eu te amava.
- ...
- Celestina?
- Sim?
- Você gosta de suspiros?
Comentários
beijo,
Beijão, Kátia
Kátia, fiquei superhonrada, agora... vou tentar escrever mais, viu?
E Paulo, acho até que vou trocar o título... adorei esse! :)
linda linda essa. colocou um sorrisão enorme na minha boca nessa manhã fria, chuvosa e ressaquenta.
:D
Que bom que vc voltou... estava com saudade, já... obrigada pelo carinho, querida!