Aceita. Tudo acaba, escritor. O que é bom dura pouco. Mas não se desespere. As coisas te farão companhia.
As memórias, ainda que dispersas ou já dispensadas, podem te perseguir docemente no escuro, amargadas de terem partido. Subrepticiamente.
A faca e o queijo. Cá estão. Faça deles e com eles o possível para não sofrer. Não rompa em soluços, não arranque os cabelos. O livro acabou. Não há mais palavras. Mas faça o possível para esquecer isso.
É fácil. É só pensar que tudo é feito de água. Tudo mesmo. Água escoante, vibrante suave, contornando os perigos, amolecendo pedras.
Águas torrenciais descem do céu. É tarde. Você fracassou, mas as pernas estão inteiras. Andam, adormecem, se estendem. Muito brancas.
É cedo para sofrer. É tarde para partir. É hora de desistir. De golpear o ar.
...
Mas depois. Ah! Depois você pisca o olho e sorri.
O mundo está todo inteiro de novo.
A chuva se foi. O cansaço também. É domingo.
E a literatura continua.
Comentários
E graças a você, ainda bem, a literatura continua...
a chuva aqui não sabe mais parar... acho que minha tristeza também não... mas vamos levando...
Débora-Borboleta, eu que agradeço você por aqui... lembro de uma frase da Clarice... "borboleta é uma pétala que voa"... quem sabe essa delicadeza não espanta nossas lágrimas? seria bom, né?
bjos!