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Teoria do Encontro I

O encontro é um desassossego. Inevitável.
Na confusão de olhares e gestos - um sempre escapa. Ilimitado.
O encontro é desavisado e inóspito. Inatingível.
Entre duas coisas, uma ponte se faz em desmedida e risco. E rapidamente some. Abrupta e leve como uma concha, como um grito, como um pássaro em queda.
Entre dois corpos, Eros desenha e destina desatinos. Nem sempre é fácil, nem sempre é fluido. Mas é sempre impressionante. Cuspe, suor, esperma, mijo, medo, nada. Músculos.
O encontro é de fazer sentido. Mas não faz. O encontro é de fazer navios. Às vezes cria desertos. Às vezes funde alegrias.
O encontro é no íntimo dentro, mas só acontece quando o fora se abre, inesperado. Como uma boca aberta.
Tudo isso pode trazer o encontro. Uma dúvida que você nunca teve. Um espelho que de repente se move. Um carro que se afasta. Uma turbulência. Um elogio. Um golpe. Tudo isso pode trazer o encontro. Consigo mesmo. E com o outro. Com o outro de mim. Com o outro do outro. Com o outro do Nós.
O outro do Nós é o inverso do atado. É o fio liso esticado em linha. O encontro apenas impossível, mas já desejado. O outro do Nós não é o número 2. É o número 1. O vôo.
Mas o outro do um não é o outro. É ele mesmo. Só que em estado de susto. Ou de espera.
O avesso do encontro não é o desencontro. É a apatia. E a sujeição.
O encontro não é ruim ou bom. É um presente. Não reúne ou solidifica. Espanta e move.
O encontro nunca aconteceu ou vai acontecer. Ele acontece.
O encontro não é da ordem do sim ou do não, do positivo ou do negativo, do sal ou do açúcar, da xícara ou do copo.
O encontro é da ordem do oblíquo. Do silêncio rumoroso das estações e aeroportos. Da impermanência do destino. Da possibilidade impossível da morte.
Todo encontro é sempre com ela. Fatal.
Todo encontro é sempre com a vida.

Comentários

lu disse…
ah, que lindo esse texto.
aguardo o desenvolvimento e a conclusão ;]
beijinhos
Anônimo disse…
"todo encontro é sempre com a vida..."
com a morte, basta um!
Unknown disse…
Obrigada, Lu! O desenvolvimento eu estou providenciando... mas a conclusão é impossível... rsrsrsrsr!

E Paulo, sempre há a opção de jogar xadrez com a dita cuja, né?!
Mas dizem que ela rouba muito...
Anônimo disse…
Fantástico!
Encontros são essenciais...


=)
Anônimo disse…
Esse texto está ótimo para ser lido no encontro do Spa de amanhã!!! Beijos e até lá!
Anônimo disse…
Olá Rebecca,

Seu comentário sobre o post "Catarse..." foi simplesmente primoroso, o que passa a não ser surpresa uma vez que se conhece o seu blog e não se consegue para de ler seus deliciosos textos. Realmente você proporciona um verdadeiro oásis nessa aridez de intelecção das diversas dimensões e intenções de um texto.

Parabéns e obrigada por sua visita em nosso espaço e, agora que aprendemos o caminho para o seu blog, tenha certeza de que as visitas serão recíprocas.

Grande abraço.
BF.
Anônimo disse…
Encontro é tão importante. É só pensar nas palavras em inglês e francês que significam encontro. Eu adoro: rendez-vous.

Beijocas,

Clau
Unknown disse…
Flor do medo (adorei esse apelido...), são essenciais, mesmo... vou continuar nesse tema... aliás, acho que nunca saí desse tema.

Denise, acabamos esquecendo, né? Mas o encontro foi bom mesmo assim... A Clarice não pode ter concorrentes... rsrsrs!

BF, suas visitas serão sempre bem vindas. E agora que descobri seu blog, não saio mais de lá!

E Clau, adoro te encontrar por aqui... já que não dá pra ser de outra forma, né?! : )
Carol Pitta disse…
O blog está demais!

"O encontro é um desassossego. Inevitável."

Palavras exatas! Parabéns!

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